segunda-feira, setembro 06, 2010

Sentimentos escritos



Lisboa, 14, Fevereiro, 2010 Domingo (por volta das 16:00)

Amor,

Sinto-te demoradamente longe. Terminantemente fria. Como se vivêssemos longe, muito longe um do outro, de nós próprios, do nosso amor. Do amor.

Lembro com a distância que me transtorna os batimentos cardíacos a primeira vez que te vi e que te olhei. Não quando nos conhecemos. Mas sim, quando eu te vi. Sei que me viste primeiro, não leves a mal a minha desatenção, nem a interpretes como descuido ou desprezo. A alma andava negra nesses dias e a visão toldada com uma espécie de lágrimas mal escolhidas e ainda mais infelizmente, vertidas.

Como eras triste e ficaste feliz de me conhecer. Como eras triste de me conhecer e eu não reconhecer o teu amor. Como fomos felizes quando, por fim, saí do mais profundo dos meus sonhos e acordei na mais pura das claridades. Tornaste-te mundo amor, e em nenhum momento repreendo o meu coração por não ter visto mais cedo a tua alma... Apenas o tornou mais puro para ter ver toda, para seres todo para mim.

Tenho-te em mim, numa forma sublime que gostava que se perpetuasse até ao fim dos teus dias. Mas o meu coração anda numa irrequietação que não reconheço quando atribuída a ti. Acorda-me a meio da noite, chora-me de mansinho ao ouvido quando faço tarefas banais, faz-me ler, vezes sem conta, as mesmas poesias, os mesmos poetas... anda desgraçadamente à procura de Al Berto quando, em tempos idos procurava Caeiro.

Não o entendo, mesmo quando estamos em silêncio. Alarga-se nele uma solidão que se está a transformar numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar o amor que ele, e eu reconhecemos e ambicionamos por ter de volta.

Examinamos os três, eu, o órgão de fogo e a alma, a fonte de onde jorrou outrora vida e amor e compreensão e pureza... é com a alma cansada e o coração pesado que verificámos que algures essa fonte secou. Numa forma de renúncia ao que sempre te quis dar. Numa revolta que entregas em noites claras e dias obscuros a outros...

E choramos, os três, por verificar que tudo amor, não foi mais do que um sonho que se queria/quer concretizar mas que se está a perder pela falta de dialogo, de partilha de receios mas também e talvez mais importante: por já não partilharmos o amor que nos viu no primeiro dia que te olhei.

Beijo-te. Muito. Como sempre.
Romeu.

2 comentários:

Latitudes disse...

todos temos um pouco de Romeu… perdidos, procuramos não esquecer a razão dessa incessante busca… tantas vezes desoladora…
talvez, nunca deixe de ser, em nós, um desesperado anseio; uma eterna e solitária caminhada; um doloroso encantamento…
talvez, a tenhamos encontrado… nunca encontrado ou buscado em Lugares impróprios… e por um qualquer motivo, se foi… virá… ou irá de nós em busca de alguém não mais do que nós… Vazios!... ou ainda que parcialmente preenchidos… nos recusemos, a ficar… por aí… e s q u e c i d o s…
“escrevo para me perder em ti… em mim… para me desencontrar do abraço… que tanto sonhamos eterno… no regresso!”… Escrevo minha, talvez, a tua “Julieta” que parece ter partido para sempre da minha vida…

Obrigado Romeu

Romeu disse...

Latitudes, antes do mais não há que agradecer, a partilha de sentimentos e emoções, quando desinteressada, aproxima-nos mais da nossa humanidade e assim, agradeço também por me colocar mais perto da minha com a sua sensibilidade...

Quanto ao resto, vejo-me forçado a concordar: passeamos muitas vezes -vezes demais- em ermos que julgamos floridos, em desertos que acreditamos terem oásis. O problema ganha corpo aquando nos apercebemos que eles existem, estão lá, mas afinal, não eram para ser "ocupados" por nós.

A partida, a divisão. a separação, a quebra é, por definição de dicionário sempre uma confinação e, em termos mais projectivos será sempre desestruturante para o ser humano que sente.

Somos fundamentalmente seres gregários. O gregario em nós pede-nos a permanência, mesmo quando esta é geradora de dor. Pede-nos o prolongamento do abraço, o reconhecimento do cheiro dos lábios daquele beijo, a constância dos gestos, a estabilidade das palavras... ... ...

Isto só nos causa o tal vazio que referia se no outro, ao invés de encontrarmos o tal "gregário", deparamos com o individuo "ego".

O Gregário pede-nos paciência, perseverança, ponderação. O Ego suplica a incessante procura do prazer imediato... As relações são, no fundo o desencontro destes dois. O terminus das mesmas, dá-se por conta, do encontro do ego com o tal gregário... Não conseguem coabitar em paz... daí que também quando se desencontram, ouseja quando o ego encontra o ego e o gregario outro gregario, a probalidade de se darem bem, seja muito maior...

Não sei se me fiz entender mas, no fundo, o que sinteticamente quero que passe no meu escrito de agora é que a minha, sua, nossa Julieta se aproxime de nós, num proximo momento com menos soberba e mais humildade por forma a que consigamos, em conjunto, encontrar o tal meio-termo que traga a todos satisfação plena... que fundo é isso, tão só que se pede numa relação adulta e madura.

Um rasgado abraço, Romeu.