Estava um dia belo: uma atmosfera quente e húmida... o tal quente angolano -ou seria o Ete indien de Dassin? A verdade é que Romeu nunca o tinha presenciado, um ou o outro, mas depois de tantas vezes o escutar nas palavras de Julieta, já o tinha "apreendido" na sua memoria com tal pormenor que julgava poder senti-lo.
Nesse dia, nesse fim de tarde tirava fotos ao acaso, do acaso... de rostos marcados, de um tronco de árvore com uma particularidade, de uma pedra com contornos incomuns, de uma cidade que fervilhava vida... A vida tem sido gentil para Romeu nestes dias: deixa-o em paz, com paz.
Sente falta de Julieta durante o dia:
- Como estás?
- O que tens feito?
Sinto saudades do teu cheiro...
- Por aqui está a mesma loucura...
- Quero chegar a casa, aos teus braços...
- O cão? Os gatos?
Pela noite fora:
- Conta lá...
- Tens de ter paciência.
- O jantar gostas?
- E amanhã o que há para fazer?
- E queres boleia?
- E então o sentiste?
- Vem para a cama, deixa o computador.
Abraça-a antes de sentir o corpo desmaiar, murmura-lhe ao ouvido as últimas palavras do dia: beijo-te. muito. muito. mesmo.
Abraçou-se, como se se reconforta-se ao relembrar aquelas palavras, a quentura daquele corpo, o cheiro... claro.
A ideia voltou a percorrer-lhe o coração uma e outra vez. Distraiu-se com algo, não sabe o que foi.
Um seu amigo acabou de combinar com ele um café. Queria falar de amor, da sua namorada, do filho que estava para nascer, da sua ida para o estrangeiro... A paz iria ser quebrada... uma hora ou duas... depois estaria como queria: só com os seus segredos, pensamentos, livros, musica e com o seu sentimentalismo tolo!
Estava tão, tão cansado...
Depois de muito o ouvir acerca de considerações desnecessárias acerca do amor, Romeu resolveu terminar a conversa dizendo apenas:
A felicidade não é algo para ser almejado. É um derivado da actividade que se almeja.
E nessa noite não dormiu um único segundo...
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