terça-feira, agosto 31, 2010

Opened Heart...


"Só se tiveres o coração aberto poderás amar!"

O Romeu suspendeu, por segundos a respiração... Não compreendeu bem o que queria o seu amigo dizer com a frase. Não lhe perguntou mais detalhes mas, passada uma semana a mesma frase ocupava-lhe o pensamento...

Debruçou-se sobre o assunto ontem à noite.
Estava estranhamente em paz... sentia-se uno com o ambiente que sentia ali em plena serra de Sintra e o ambiente estava peculiarmente quente. As vozes, que se ouviam da mocidade inquieta, não o incomodavam, gostava daquela felicidade despreocupada que encontrava em cada rosto bronzeado, em cada palavra desacautelada.

Olhando o castelo lá no cimo, vieram-lhe à memoria tempos idos: sentimentos de amor eterno também ele, relaxado, de um sol calmante que percorria alegremente os jardins verdejantes e místicos criando sombras nas quais descansou e olhou para Julieta. Nesses dias Julieta parecia-lhe quase que mágica, imbuída de uma profunda e constante luz...

Era noite, no meio da escuridão a luz fez-se quando as seguintes palavras lhe sugiram naturalmente: Só se abandonar todos os receios e fantasmas poderei amar. Só se me amar e fizer respeitar é que que poderão amar.

Seriam quatro da manhã quando Romeu desceu até Colares e mais tarde, certamente, quando chegou às Azenhas do Mar... chegou com a certeza de que o caminho percorrido foi longo mas, haveria ainda muito mais para percorrer...

Hoje o cansaço parece-lhe pequeno, já nada o detém.

No meio da multidão...


É no meio da multidão que o Romeu se sente mais só.

É quando está só que Romeu se sente parte da espécie humana.

É quando se sente parte da espécie humana que Romeu se questiona.

É quando se questiona que Romeu chega à conclusão de que tudo é dual.

É quando é dual que Romeu repara no seu verdadeiro e nítido reflexo.

É quando vê as coisas assim: claras, que Romeu olha a multidão e vê as razões de tudo.

É quando isso acontece que Romeu deseja poder voltar atrás no tempo e dizer, mais uma vez: Amo-te.
Ainda te amo!
Pode ser isto o bastante?

segunda-feira, agosto 30, 2010

Férias


O Romeu esteve de férias...
Esse tempo foi sagrado.
O Romeu já foi muito feliz em certas férias mas, nos últimos anos as férias têm surgido mais como a "maldição da múmia" do que como a descoberta do túmulo de Tutankamon...

Aliás, o Romeu receava, e com razão, que mais uma vez estas férias fossem amaldiçoadas por um qualquer acontecimento que o ultrapassa-se... Assim, foi: primeiro a Julieta abandona o Romeu à sua sorte e depois, o Romeu, tem a morte do seu familiar mais querido...

Em desespero de causa o Romeu, decidiu, mesmo assim, ir de férias, obrigou-se e, garanto-vos, a tarefa não foi fácil...
Pela primeira vez na sua vida, foi sozinho e sentiu-se só...
Porém, a inicial angustia deu lugar a uma estranha forma de paz mal chegou ao seu destino...

É verdade que nos primeiros dois dias alguns amigos ainda o lembravam das dores: uns porque repetiam incessantemente as palavras de Julieta, outros porque lamentavam a sua perda familiar...

O Romeu, conseguiu, estranhamente, até para ele, abstrair-se da primeira situação pensando que não se deveria preocupar muito com o que os outros diziam ou pensavam...

Já não queria saber das mentiras contadas...
Não se interessava pelas manipulações de bastidores...

No fim de contas ele sabia que sempre haveria duas versões para uma mesma história e que se um dos lados já havia contado a sua, uma repetição de um "filme" apenas com outros factos, não deixava de ser uma repetição...

O Romeu já tinha "visto filmes" destes a mais. Aliás, mais do que aqueles que teria gostado ver...
Achou portanto, aquela parafernália circense desnecessária, sobretudo se, esse partilhar de intimidade fosse feito com "semi-desconhecidos"...

Ainda que sem expressar isso ao próximo sempre que com ele falavam por forma a não ser desagradável, teve pena da "fraqueza" de Julieta mas, não deixou de sentir uma certa complacência e compreensão na situação, pois se Julieta contou era porque precisava de o fazer. Se permitiu que "entrassem" na sua intimidade seria, porque não se incomodava com isso.

Não julguem por isso, que Romeu não se sentiu e ressentiu. Como gente que é, teve sentimentos contraditorios mas, pensou: as coisas só podem tomar conta de nós se deixarmos que elas entrem...

Muito francamente, o Romeu, já tem "acumulados seis anos nas suas costas" de sentimentos negativos, de falsas promessas, da tal falsidade humana e, crê, hoje, sinceramente, que tal também se deve a si: porque, a dada altura, mesmo que inconscientemente, deixou que os sentimentos negativos (e as pessoas) entrassem e, muitas vezes tomassem conta dele... Eu já vos disse que o Romeu é humano???? Pois... foi isso.

A única vantagem de Romeu é que tem tantas falhas que acaba por ter uma capacidade acrescida para compreender a dos outros... por isso, raramente guarda ressentimentos, poucas vezes é rancoroso e, à excepção de uma ou outra vez em que perdeu, literalmente, "a cabeça" é que foi vingativo.

No fim dos seus dias, o Romeu acha sempre que o que fazemos de mal, reverte -mais cedo ou mais tarde- para nós, portanto, o melhor é não sermos nem termos muitas acções negativas e/ou das quais nos venhamos a arrepender...

Quanto à segunda situação, o Romeu pensou de novo: em breve encontrarei, noutra dimensão existencial o meu avô. O seu caminho, agora, começou de outra maneira... portanto, é só uma questão de darmos tempo ao tempo...

Assim, estas férias forma um misto de paz e turbulência, felicidade e alguma tristeza latente... Mas e a vida não é sempre assim?

terça-feira, agosto 24, 2010

Acontece.


Por vezes o Romeu anda confuso, a constância da insatisfação do seu espírito inquisidor assim o leva à procura desenfreada dos livros, das musicas, da arte... é neles que se reencontra, é neles que se pacifica e, também é nestes objectos, aparentemente, sem importância que sossega a alma.

Certo dia, lendo Confúcio debruçou-se sobre um parágrafo: "O sábio teme o céu sereno; em compensação, quando vem a tempestade, ele caminha sobre as ondas e desafia o vento."

Releu aquela frase diversas vezes, não pode deixar de pensar: "Talvez esteja na hora de navegar ondas e aproveitar o vento ao invés, de estar em constante luta." O Romeu nunca foi de desistir mas, perguntou-se: "Para quê lutar por algo que mais ninguém quer e só tu é que vês?"

Nesse dia, não leu mais.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Assim é a morte...


O Romeu perdeu ontem a pessoa que mais amava da sua família... Este amor não tinha a ver com sangue, ou parentesco, com idade ou afinidadades mais banais.

O Romeu e o seu avô eram almas gémeas.

O seu amor não foi crescendo, quando Romeu nasceu, ele já lá estava à sua espera. E Romeu precisou apenas de o ver uma vez para o reconhecer...

Se Romeu ama virtuosamente, a ele o deve.
Se Romeu tem bons princípios, foi ele que lhos ensinou.
Se Romeu adora viver, com ele aprendeu.
Se Romeu não é pessoa de ressentimentos e outros sentimentos menos nobres, foi o seu avô que lhe lhos estendeu nas mesmas mãos com que, no dia anterior a falecer, lhe pediu um abraço e um beijo.

Romeu sente-se órfão, do seu "pai", companheiro, amigo... Neste dia, na sua família, uns choram, outros gritam, outros há que falam sozinhos...

Os últimos anos não se têm apresentado fáceis para Romeu mas, este ano tem sido, particularmente doloroso para si.

No meio da dor, só Romeu se encontra no canto, parado, sem verter lágrimas, sem dizer palavra... É que para esta situação o avô de Romeu não o preparou... Romeu sente-se perdido e não sabe o dizer, o que pensar, o que sentir...

Romeu, teve sempre a fantasiosa ideia de que este amor não morreria... Tinha razão... A sua única certeza é de que um dia, em breve, irá encontrar o seu avô...

A vida continua avô mas, para mim agora, é mais a contra-gosto...

quinta-feira, agosto 19, 2010

E assim vai a vida...


O Romeu durante diversas semanas ponderou a hipótese de confrontar, de pedir explicações, de exigir justificações... não por ser quezilento mas, apenas para poder compreender: porquê...

Ponderou a maturidade das suas questões...
Pensou nas diversas hipóteses de resposta do outro lado...
Considerou a probabilidade de sinceridade...
Avaliou os prós e os contras de tal confronto...
Meditou na importância de saber o porquê de alguém o expor daquela maneira...
Reflectiu nas consequências que as perguntas poderiam criar...

Afinal, a resolução do caso foi muito mais simples: nada como realmente, falar de banalidades e darmos a outra face... A seu tempo, ou não, o outro aperceber-se-à dos erros.

terça-feira, agosto 17, 2010

Já foi assim...


É sempre com redobrado prazer que o Romeu fala com os seus amigos. Por isso, foi com prazer que hoje falou com uma amiga que ajudou faz muito tempo... Esta amiga passou por maus momentos, e o Romeu, juntamente com o seu fiel companheiro Mercutio, estiveram ao seu lado no apoio incondicional... Depois ficaram muito tempo sem se falar... Graças à teimosia de Romeu, que sempre foi enviando "cartas" e missivas a amiga está de volta...

O Romeu é assim, quando gosta não desiste e quando desiste não gosta muito de si... A conversa de ontem deixou-o francamente feliz, por si mas, acima de tudo por saber que a sua amiga estava bem. Disse ela depois do banal fiz isto e aquilo:

"São só dores e isto não vai para melhor!"

"Então o que se passa?"

"É a P.D.I..."

"Deixa lá, eu com esta idade e já tenho reumático!"

"Sempre foste precoce!"

"Sim? Em quê? Parece-me que só nas coisas más!"

"Nã. Em tantas coisas boas... No saber o que querias... e o que não querias... Sempre me lembro da tua inteligência humorística mas, também lembro do teu rir a bom rir, sempre perspicaz na tua opinião e nas tuas ideias, amigo, presente... É essa a ideia que tenho de ti. É assim, que me lembro de ti. Gosto deste Romeu!"

"Hum... também gosto, mas já não existe."

"Existe pois, está apenas momentâneamente arrumado... mas virá, és isto, por isso o que foste até agora é que não eras tu... está na altura de esquecer quem não gosta de ti e de voltares a ser quem eras. É doloroso, pois é, mas como dizias tantas vezes: tudo passa, tudo acaba, tudo se transforma... Romeu, essa dor, esse Romeu fajuto, também há-de acabar!"

"És uma boa amiga... pelo menos sabes animar-me!"

"E isso, para uma amiga já não é mau pois não? Há tanta gente que só fica feliz quando estamos na mó de baixo!"

"Verdade!"

"Ah lembrei-me de outra coisa..."

"O quê?"

"Tu sempre foste amigo nas boas ocasiões mas excelente, nas más... porque sempre me querias ver bem! E aquilo que fazias de palhaçadas para me veres bem..."

"Sabes, é que uma pessoa de bem com a vida, chateia muito menos do que uma de mal com o mundo!"
"Vês?! Já me fizeste rir... e hoje tou cá com umas dores!!!!"

"Querida, tu e eu, tu e eu!"

segunda-feira, agosto 16, 2010

E depois?


O Romeu tem vasta família... como é conhecido a família não se dá com outras famílias rivais e, por vezes até dentro da própria família há rivalidades...

Há porém, um núcleo de pessoas, restricto, em quem o Romeu confia implicitamente... Um deles é o seu primito Michelangelo. Pequeno mas esperto como um alho.

Certo dia, vendo um mar despontar nos olhos de Romeu perguntou:
- Então Romeu, descascaste uma cebola?

Ao que Romeu respondeu com um nó na garganta:
- Sim.

Não convencido com a resposta o petiz replicou:
- Não. Diz lá de verdade.

Romeu olhou-o com o reconhecido carinho e disse-lhe:
- Estou triste!
- Porquê?
- Porque do outro lado de um outro mundo, acabou o amor.
- E depois quando o amor acaba o que vem depois?
- A raiva.
- E depois?
- A dor.
- E depois?
- A saudade.
- E depois?
- A tristeza.
- E depois?
- O que tiver de vir depois.

Aos 2.800

Aos 2.800 metros de passeio, Romeu parou.
Olhou, desceu as escadas, voltou a olhar. Julgou que estaria no sítio errado. Subiu de novo e afinal verificou que não, o local era o correcto.

O coração que o mar tinha esculpido desaparecera como se também a natureza, adivinha-se o fim de tal escultura.

Romeu quedou-se ali durante algum tempo... como o seu órgão de fogo, também ali as coisas se verificavam: o seu coração já tinha estado meio, e já tinha estado repleto, agora, como a escultura encontra-se partido, vazio, sem mar, nem sol, nem nada...
A praia permitiu que ali ficassem a descansar memorias... que ele gostava de voltar a viver mas que sabe que não voltam...

E assim foi, durante muito tempo...

sábado, agosto 14, 2010

Kumbh Mela


O Romeu sempre gostou de viajar. Nos últimos tempos as suas viagens têm sido tão frustradas como as suas férias... Vai daí o Romeu tem viajado, como pode: através dos livros e das histórias que cada povo conta... Uma das que o deixou particularmente curioso foi a Festa do Pote - em hindi: Kumbh Mela...

Reza, então, a história que há muito, muito tempo, deuses e demónios entraram num conflito pela disputa do pote que continha o néctar da imortalidade. No calor da refrega, diz-se, que quatro gotas desse elixir caíram sobre a Terra, mais propriamente nas cidades indianas de Allahabad, Haridwar, Nasik e Ujjain.

Evocando este episódio em cada 12 anos realiza-se a referida festa do Pote alternadamente em cada uma das 4 cidades onde tombaram o hidromel.

Cabe aos Naga Sadhus, ascetas ioguis, abrirem o Mela com os seus rituais de flores e de cinzas. este ano foi a vez de Haridwar - o Portão dos Deuses - na margem do rio Ganges.

De Romeu, o único néctar que verte, são as suas lágrimas mas, dessas não nasce nada.

O Romeu, espera mas não desespera, e por isso, daqui a 12 anos espera estar em Nasik, sem lágrimas, para que também ele através das cinzas e da ablução se faça um homem novo, lavado de pecados para seguir impoluto o eterno ciclo de nascimentos e reencarnações.

O Romeu espera...

sexta-feira, agosto 13, 2010

O verbo...


Amar é difícil. O Romeu sabe-o bem. Talvez por ser tão difícil, quando o amor acaba, ele nunca deixa de amar...

O cheiro do perfume do corpo da sua amante permanece por entre o seu corpo, na roupa depois de lavada, na cama há muito não partilhada... permanece.

O escutar de certas musicas, que mesmo no silêncio da noite teimam em tocar, depois de adormecer, quando começa a sonhar... permanecem.

O ver as mesmas imagens, mesmo de olhos fechados, já depois de não frequentar os mesmos sítios, mesmo quando já não vê sequer esses olhos... permanecem.

A sensação de toque de um corpo com quem já não partilha intimidade, ou toque ou carinho... permanece.

O gosto suave do beijo alegre, do roubado, do apaixonado, do louco, do traído, do mentido, do acre e do doce... permanece.

O Romeu, tentou, em vão, esquecer depressa quem não pode ser esquecido.

O Romeu, tentou em vão, esquecer que não era Romeu,
que era como outro qualquer pintor que não gosta da sua tela e a deita fora,
como outro qualquer compositor que não gosta da sua nova partitura e a rasga,
como outro qualquer perfumista que não conseguiu ainda o aroma que queria e desiste do perfume,
como outro qualquer escultor que erra o seu cinzel e parte a pedra mal colocando-a de lado...

como outro... qualquer... descobriu, rapidamente, que é como outro qualquer, tem é uma memoria fora do comum.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Há... de haver!


Quando o Romeu ama há uma felicidade em si que transborda, torna-o tolo, inconsequente, puto "charila", ciumento, desmesurado, bom, atento e, em tudo o que vê, mesmo na pessoa amada é sempre com uma sensação de que antes da escuridão há luz e depois, também!

O Romeu é inteligente: pensa muito com o coração! Que é o melhor órgão para avaliar e ser avaliado!

segunda-feira, agosto 09, 2010

Cansaço


O Romeu é de se queixar!

Mas, desta vez só queria mesmo que o deixassem em paz.

Valerá a pena questionar porquê?

Quem falhou?

De quem foi a culpa?

Como aconteceu?

O que foi feito do sentimento?

Choras muito?

Tens saudades?

Já viste o que disse?

Porque contou?

Porque ocultou?

E se tivesse feito diferente?

E se... porque... mas...

O Romeu, gostaria mesmo que o deixassem em paz. Merece!

Deixem que o sentimentos em si brotem e irrompam a alma mas, no sossego e no silêncio de si.

A relação é sua, os sentimentos também... os bons e os maus. Só seus!

domingo, agosto 08, 2010

Fez-se luz... numa espécie de lusco fusco esquizitoide...


O Romeu, a medo levantou a pedra de onde brotavam todos os seus receios, medos e temores... O que encontrou foi a confirmação da sua apreensão, mas nunca esperou que a pessoa que ele tão delicadamente tinha colocado num "altar de virtude" fosse afinal, também, brotar de baixo de uma pedra.

O inicial contentamento que Romeu teve após descobrir que tinha razão, deu, quase de imediato, lugar a uma estranha sensação de perfídia e desalento.

Afinal, aquela era apenas uma pessoa, tão comum como as outras... mentia, ocultava, falava nas costas, confessava segredos que não eram os seus... por debaixo do manto de generosidade escondia-se o animal que todos somos: o egoísta.

Romeu, sabia agora a verdade, mas preferia nunca ter a descoberto.

sexta-feira, agosto 06, 2010

O Romeu tem sentimentos


O Romeu, como a maioria dos comuns mortais tem sentimentos... Alguns deles são sentidos de forma tão avassaladora que entre ataques de pânico e de ansiedade a, pequenas explosões de choro, o Romeu sente, chora e desespera.

O Romeu por tanto sentir, já quase enlouqueceu. E para não enloquecer certo dia, ganhou gosto pelo vinho (tinto, de boa qualidade) e exagerou. Daí a exagerar diversas vezes foi um passo. O problema foi para deixar...

Como as coisas não acontecem por acaso, um dia o Romeu, que tinha, mais uma vez, sido largado por outra Julieta, conheceu um tipo. O Romeu andava de cabeça perdida e só pensava: "Bolas como é que isto me foi acontecer? Esta Julieta era para a vida! Andou tanto tempo atrás de mim, compreendia-me, sabia "de onde eu vinha", das minhas vicissitudes... Não tinha segredos... Com ela podia ser eu... Melhor, com ela podia a ser o que fui, antes do vinho, antes da loucura assentar arraiais no meu corpo... Podia ser mais, podia ser melhor!".

A Julieta, infelizmente, da mesma forma que o perseguiu para o conquistar, depressa deixou de se interessar e certo dia disse-lhe: "Já não tenho idade, nem paciência para esperar por ti e pelas tuas mudanças. Estou farta: de ti e da tua personalidade!"

O Romeu, encolheu-se, sentiu-se mal, muito mal, cheio de dores... Queria chorar e não conseguia. Agora que ele estava a mudar, agora que ele estava a entrar na rotina da sua Julieta, a compreender melhor os seus problemas, a fazer parte da sua vida... A Julieta que certo dia lhe disse que queria casar consigo, que queria ter filhos com ele... Agora que ele a amava, como ela o amou...

Num primeiro rasgo de idiotice -não há mesmo melhor descrição- o Romeu julgou que a melhor solução era afogar as lágrimas, literalmente... Correu os vários "botequins" que conhecia, em todos parava, olhava prolongadamente o taberneiro e no último segundo, pedia: "Um café!"

Essa noite não dormiu. As outras também não mas, nessa noite lembrou-se do tal tipo que tinha conhecido: Um tipo que não pertencia aos seus conhecimentos mas, pertencia à sua taberna. Um tipo que por diversas vezes lhe interrompeu a leitura apenas para levar um "Boa noite. Está tudo bem com o senhor?".

Um tipo que certa noite, apenas porque o Romeu o quis ouvir, lhe contou a sua história de vida... Resumindo: desempregado, mulher deixou-o, filho não via há mais de 3 anos, bebia que nem uma esponja, tinha uma cirrose... Teria de fazer, depois de vários quistos retirados sem sucesso, um transplante total...

O Romeu, que naquele dia até estava menos triste, compadeceu-se, olhou o homem e pela primeira vez, viu efectivamente o ser à sua frente... Compadeceu-se com a miséria, num acto muito seu perguntou se podia ajudar... O homem olhou-o, sorriu e disse: "Ouviu-me. Já ajudou." Veio a saber que mais tarde, ainda nesse mês, o homem faleceu...

Nessa noite, depois dessa conversa, após tantos cafés, o corpo do Romeu doia-lhe mas, não estava tão dorido quanto a sua alma.

Pensou: Não quero morrer só.
Mas também não posso sofrer nem maltratar-me por quem não me ama, nem espera por mim...

Nessa noite, depois de muito pedir: chorou. Verificou que tinha uma sorte tremenda: estava vivo! E quando se está vivo tudo é possível, a mudança é possível.

Nessa noite, o Romeu adormeceu apaziguado, sem fantasmas que perturbassem o seu sono, nem álcool que aleigeira-se a dor e o sono...

Nessa noite, o Romeu sonhou... Consigo, feliz.

quinta-feira, agosto 05, 2010

O Romeu e a paz...


O Romeu, sempre foi um romântico.
Forjado em ferro antigo, com molde negativo original.
Entregava-se, literalmente de corpo e alma.
Pensava: Se estou com ela, estou todo, completo.

Tal nunca lhe valeu mais do que os já conhecidos "5 minutos de fama" de que Warhol tanto falou, com a maioria das mulheres com quem partilhou vida...

Valeram-lhe ainda, muitas dores de cabeça... e chatices, e insónia...

É que o Romeu, criou um hábito terrível mesmo quando o amor "terminava" para os outros: O Romeu tinha o péssimo hábito de continuar a amar.

Amava acima de tudo o passado vivido com aquela pessoa. Aliás, os momentos felizes. Quase que instantâneamente as discussões, a infelicidade de alguns momentos, as palavras duras, o desprezo... estavam obliterados de tal forma da sua existência interna, que sempre que recordava o outro, inevitavelmente como se de um rio se trata-se correndo para o seu mar, Romeu sorria e sentia o seu pequeno coração encher-se de alegria.

Tinha de requisitar os préstimos pragmáticos de alguns dos seus amigos por forma a que estes o lembrassem da realidade:
"Oh rapaz então e aquilo que ela te disse?" diziam uns.
"Oh homem mas porque raio gostas tu de quem não gosta já de ti?" diriam outros.

Com algum pesar mas, consciente da dureza dos outros corações que efectivamente o tinham deixado para trás como se de um velho vaso se tratasse, o Romeu, algo frequente, vertia uma lágrima ou outra e o seu coração ficava pequenino, cheio de pena de si próprio, repleto, agora, de incompreensão pelo sucedido.

Sabia que os amigos tinham razão.

Sabia também, que quando amava era uma pessoa muito melhor.

Romeu, estava em constante dicotomia interna.

Não abdicava de amar mas, nestes casos, como amar?