O Romeu, como a maioria dos comuns mortais tem sentimentos... Alguns deles são sentidos de forma tão avassaladora que entre ataques de pânico e de ansiedade a, pequenas explosões de choro, o Romeu sente, chora e desespera.
O Romeu por tanto sentir, já quase enlouqueceu. E para não enloquecer certo dia, ganhou gosto pelo vinho (tinto, de boa qualidade) e exagerou. Daí a exagerar diversas vezes foi um passo. O problema foi para deixar...
Como as coisas não acontecem por acaso, um dia o Romeu, que tinha, mais uma vez, sido largado por outra Julieta, conheceu um tipo. O Romeu andava de cabeça perdida e só pensava: "Bolas como é que isto me foi acontecer? Esta Julieta era para a vida! Andou tanto tempo atrás de mim, compreendia-me, sabia "de onde eu vinha", das minhas vicissitudes... Não tinha segredos... Com ela podia ser eu... Melhor, com ela podia a ser o que fui, antes do vinho, antes da loucura assentar arraiais no meu corpo... Podia ser mais, podia ser melhor!".
A Julieta, infelizmente, da mesma forma que o perseguiu para o conquistar, depressa deixou de se interessar e certo dia disse-lhe: "Já não tenho idade, nem paciência para esperar por ti e pelas tuas mudanças. Estou farta: de ti e da tua personalidade!"
O Romeu, encolheu-se, sentiu-se mal, muito mal, cheio de dores... Queria chorar e não conseguia. Agora que ele estava a mudar, agora que ele estava a entrar na rotina da sua Julieta, a compreender melhor os seus problemas, a fazer parte da sua vida... A Julieta que certo dia lhe disse que queria casar consigo, que queria ter filhos com ele... Agora que ele a amava, como ela o amou...
Num primeiro rasgo de idiotice -não há mesmo melhor descrição- o Romeu julgou que a melhor solução era afogar as lágrimas, literalmente... Correu os vários "botequins" que conhecia, em todos parava, olhava prolongadamente o taberneiro e no último segundo, pedia: "Um café!"
Essa noite não dormiu. As outras também não mas, nessa noite lembrou-se do tal tipo que tinha conhecido: Um tipo que não pertencia aos seus conhecimentos mas, pertencia à sua taberna. Um tipo que por diversas vezes lhe interrompeu a leitura apenas para levar um "Boa noite. Está tudo bem com o senhor?".
Um tipo que certa noite, apenas porque o Romeu o quis ouvir, lhe contou a sua história de vida... Resumindo: desempregado, mulher deixou-o, filho não via há mais de 3 anos, bebia que nem uma esponja, tinha uma cirrose... Teria de fazer, depois de vários quistos retirados sem sucesso, um transplante total...
O Romeu, que naquele dia até estava menos triste, compadeceu-se, olhou o homem e pela primeira vez, viu efectivamente o ser à sua frente... Compadeceu-se com a miséria, num acto muito seu perguntou se podia ajudar... O homem olhou-o, sorriu e disse: "Ouviu-me. Já ajudou." Veio a saber que mais tarde, ainda nesse mês, o homem faleceu...
Nessa noite, depois dessa conversa, após tantos cafés, o corpo do Romeu doia-lhe mas, não estava tão dorido quanto a sua alma.
Pensou: Não quero morrer só.
Mas também não posso sofrer nem maltratar-me por quem não me ama, nem espera por mim...
Nessa noite, depois de muito pedir: chorou. Verificou que tinha uma sorte tremenda: estava vivo! E quando se está vivo tudo é possível, a mudança é possível.
Nessa noite, o Romeu adormeceu apaziguado, sem fantasmas que perturbassem o seu sono, nem álcool que aleigeira-se a dor e o sono...
Nessa noite, o Romeu sonhou... Consigo, feliz.