quarta-feira, outubro 13, 2010

E...


Romeu acordou renovado, aquele amor adulto tinha-o encontrado e Romeu, desta feita, não tinha virado costas, respondido mal, ser sarcástico ou sequer, olhar com humor corrosivo.

Romeu, abriu os olhos e sorriu, apenas isso, sorriu. Abriu bem os olhos, viu para além dos raios da manhã, das "ramelas" nocturnas e da já conhecida miopia.

Romeu sorriu.

A idade adulta tinha-o apanhado. Quase de surpresa não fosse Romeu estar tão preparado e carente pela espera.

O amor também.

Romeu só não sabia o que dizer para além de ter o sorriso, que agora raiava o tolo.

Romeu estava tolo de sorrir. Deu-se conta que só os tolos se riem, porque de facto, só quando dizemos coisas verdadeiramente tolas é que rimos.

Romeu ria e não conseguia parar de o fazer. Incorria no sério risco de ser mal interpretado.

Colocou o seu ar mais composto de seriedade... e ainda assim, como uma flor que esperou toda uma Primavera para florir, o sorriso de Romeu despontou em crescendo como se uma opereta Mozartiana se trata-se...

E riu... e riu...

Já estava com os abdominais em pleno esforço quando lhe ocorreu o seguinte pensamento:

E rir é mau?

quarta-feira, outubro 06, 2010

Espanto


Romeu já é Romeu...

Há nele um espanto.

Ela beijo-o e Romeu ficou-se pelo espanto. Espanto quase pueril, inocente e tão surpreso como se aquele fosse o seu primeiro...

Recuou pelo menos dois passos. Abriu os olhos. Ela segurou-lhe as mãos delicadamente. Romeu já não era Romeu mais parecia uma Madalena de tanto surpreso e virginal que estava perante a concretização do beijo esperado.

Nessa noite não ficou. Na seguinte também não.
Romeu apanhou o primeiro Rocinante que se apresentou por boleia e rumou ao desespero do castelo solitário.

Chegado lá sentiu-se admiravelmente bem. Seguro. Protegido.

Chorou.

Muito. Mesmo.

Julgava que estava a trair um sentimento que já só existia nele. Uma pessoa que só existia no seu pensamento.

Limpou as lágrimas e de forma fria pensou: e agora? O que faço?

Romeu já não era Romeu. Era um Orlando de Wolf em plena transmutação sexual... Romeu estava com medo daquilo que se apresentava, da tempestade conhecida, da bonança falsificada...

Romeu, que tinha descoberto fazia tão pouco tempo a pacificação da liberdade, via-se de novo enredado numa teia que se antevia de pseudo-amor e tolas promessas...
Romeu queria continuar a ser Romeu e quando se olhava no espelho só via Belas Adormecidas, Cinderelas e mulheres quejandas...

Romeu ainda gritou pelo seu fiel amigo Mercurio... Não obteve resposta.

Romeu quer ser Romeu.

Mas...

Romeu será ainda, Romeu?

sexta-feira, outubro 01, 2010

Par...ir...


Com força, agora.
Respira.

De novo.

Respira, agora compassadamente.

Um pouco mais.

Está quase.
Chegou.

A mãe chora, o filho do seu ventre sente-se desconfortável, com frio, ansiando o calor dos braços da sua mãe, o pai olha-o com espanto.

Parir um filho dá trabalho.

Criá-lo dá mais.

O amor é assim mesmo: dificil de parir, choroso, esperançoso pelo fim do frio e a chegada da quentura e claro... espantoso.