segunda-feira, setembro 27, 2010

Mundo


O Romeu quer ser mundo.

Já correu Mundo.
Já falou Mundo.
Já conheceu Mundo.
Já viu Mundo.
Já sentiu Mundo.

Ultimamente Mundo tem vindo até si: segreda-lhe ao ouvido, toca-o de mansinho, sorri, vai com ele até à praia, deleita-se no sol, encosta-se a si enquanto lê, beija-o quando acorda, abraça-o durante o sono inquieto da noite... ... ...

O Romeu sente-se perdido.

Quer dar-se a este Mundo. Quer acreditar no seu coração.

Mas o seu pensamento dita-lhe a já conhecida oração de Judas:

Não te entregues a quem te dá Mundo, porque o mais certo é quando partir, levar Mundo consigo.

O Romeu encolhe-se de novo, para a sua pacata e discreta concha, sabe que aquele não é Mundo mas, ao menos não lhe pode ser roubado.

O Romeu tem passado nestes dias de sol, verdadeiros tormentos chuvosos.

segunda-feira, setembro 20, 2010

Mental


A prática profissonal de Romeu tem a ver com a doença e a deficiência mentais. Para manter os palacetes de família teve de ser... A esgrima já não era também, entretém suficiente...

Há algo de interessante na doença mental: a forma como surge, a sua causalidade, a alteração comportamental, a localização cerebral,o grau de gravidade, se apenas sofre de uma ou mais doenças mentais... ... ... por fim, o mais interessante: como se cura uma doença mental?

É na cura que se centra a maior dificuldade deste tipo de doenças. É na cura que muitos de profissão igual perdem a esperança. É na cura que se perdem muitos utentes. Mas é também na cura que reside a maior fonte de "preenchimento profissional".

O Romeu escolheu esta área por mero acaso mas, manteve-a por opção. Achou, bem depois de terminada a formação que era uma área de constante estudo e isso, deixa-o em puro êxtase. Saber que nunca sabe nada e que para saber alguma coisa terá sempre de ler e ler e ler ainda mais é uma tarefa tão sublime como se todos os dias fossem dias mesmo novos. Sem repetição. Sem inércia. Sem enfado.

Durante anos foi feliz na sua profissão que, diga-se desempenhava com a mesma felicidade e frescura como se de um garoto se tratasse ao ver, pela primeira vez ,o mar. As situações mais inusitadas acabavam por fazer com esboça-se um sorriso a cada passo dado com um seu utente. É que sabem não era no fundo, um passo do utente, era um passo do utente com Romeu e isso, dava-lhe a sensação de dever cumprido todos mas mesmo todos os dias.

Romeu portanto, já foi bom, em alguma coisa. Já foi uma pessoa. Uma pessoa que acreditava num futuro melhor. Um futuro bom.

Agora essa tarefa de acreditar torna-se, a cada dia, um esforço mais brutal e complicado e inglório e enfadonho e triste e infeliz e cansativo e... e... e...

domingo, setembro 19, 2010

deus...


O Romeu, quando era novo era um pequeno deísta...

Mais velho, começou a achar que a Julieta era o seu deus...

Nenhum destes pensamentos se revelou como certo.

O Romeu sente-se sempre como um garoto a olhar um majestoso pedestal: qualidades majestosas, possibilidades infinitas...

O universo está, naqueles braços que segura ternamente durante a noite, no olhar carinhoso com que olha a pessoa amada...

Rilke, afirmou um dia, numa das suas cartas, que a única forma de se manter um casamento seria sempre pelo movimento de separação-reconciliação.

Romeu adora ler Rilke e acha-o um verdadeiro escritor... Não concorda, porém, com esta afirmação do seu escriba tão admirado.

O Romeu só quer mesmo é não se separar ainda que compreenda que por vezes, nessa ânsia de não-separação acabe por ser mal interpretado e muitas vezes a separação se torne implacavelmente desejada.

Por vezes, Romeu, só desejava não ter constantemente as lágrimas nos olhos.
Não ter de se separar.
Não ter de perder parte de si, todo o outro.
Ver as rugas na cara do outro surgirem.
Adivinhar-lhe os cabelos brancos...

De poder dizer: estivemos uma vida inteira juntos e teremos outra para ficar perto um do outro.

sábado, setembro 18, 2010

A tarefa...


Depois de muito ponderar, Romeu chegou à conclusão que é tarefa mais difícil aprender a deixar de amar alguém do que aprender a amá-lo...

Não chega contudo, à conclusão de como é que tão facilmente deixam de o amar.

Deixa-o mais perplexo ainda o facto de o tempo para si ser sempre uma medida mais alargada do que para os outros.

O Romeu está mesmo "a leste do paraíso" e isto literalmente. Mais parece que os outros na sua velocidade estonteante para "passar para outra", para esquecerem, para culparem sem serem culpados... esqueceram que também amaram, ou pelo menos assim o disseram.

O interessante notar é que estas pessoas são de facto felizes: o Carnaval veneziano nesses "países" existe e é uma constante. Regem-se pela máxima: não me dá prazer, então não quero. E pensava o Romeu que era um arlequim...

No fundo o Romeu não passa de um palhaço rico... e claro, como o próprio palhaço rico do circo: gozado, pelos palhaços pobres que com ele se cruzam.

sexta-feira, setembro 17, 2010

Actividade


Estava um dia belo: uma atmosfera quente e húmida... o tal quente angolano -ou seria o Ete indien de Dassin? A verdade é que Romeu nunca o tinha presenciado, um ou o outro, mas depois de tantas vezes o escutar nas palavras de Julieta, já o tinha "apreendido" na sua memoria com tal pormenor que julgava poder senti-lo.

Nesse dia, nesse fim de tarde tirava fotos ao acaso, do acaso... de rostos marcados, de um tronco de árvore com uma particularidade, de uma pedra com contornos incomuns, de uma cidade que fervilhava vida... A vida tem sido gentil para Romeu nestes dias: deixa-o em paz, com paz.

Sente falta de Julieta durante o dia:
- Como estás?
- O que tens feito?
Sinto saudades do teu cheiro...
- Por aqui está a mesma loucura...
- Quero chegar a casa, aos teus braços...
- O cão? Os gatos?

Pela noite fora:
- Conta lá...
- Tens de ter paciência.
- O jantar gostas?
- E amanhã o que há para fazer?
- E queres boleia?
- E então o sentiste?
- Vem para a cama, deixa o computador.

Abraça-a antes de sentir o corpo desmaiar, murmura-lhe ao ouvido as últimas palavras do dia: beijo-te. muito. muito. mesmo.
Abraçou-se, como se se reconforta-se ao relembrar aquelas palavras, a quentura daquele corpo, o cheiro... claro.

A ideia voltou a percorrer-lhe o coração uma e outra vez. Distraiu-se com algo, não sabe o que foi.

Um seu amigo acabou de combinar com ele um café. Queria falar de amor, da sua namorada, do filho que estava para nascer, da sua ida para o estrangeiro... A paz iria ser quebrada... uma hora ou duas... depois estaria como queria: só com os seus segredos, pensamentos, livros, musica e com o seu sentimentalismo tolo!

Estava tão, tão cansado...

Depois de muito o ouvir acerca de considerações desnecessárias acerca do amor, Romeu resolveu terminar a conversa dizendo apenas:

A felicidade não é algo para ser almejado. É um derivado da actividade que se almeja.

E nessa noite não dormiu um único segundo...

quinta-feira, setembro 16, 2010

Dicotomia



O Romeu tem longo histórico, comprovado, analisado e público de diversas idiossincrassias.

Durante anos a fio nem ele soube que padecia de tal problema.

Os médicos fizeram-lhe um sem numero de exames.
Os psicólogos acharam por bem que realiza-se diversos testes, até projectivos.

Os sociólogos debatiam a possibilidade de algum problema cultural.

Os arqueólogos pensaram num povo que tivesse na sua história, estória semelhante.

Os politólogos achavam que era uma facção anárquica desconhecida.

Os advogados aventaram a hipótese de ser crime.

Os matemáticos inventaram formulas e equações para chegarem a algum tipo de conclusão.

Os físicos perderam-se na química.

Os linguistas estudaram e procuraram nas línguas mortas textos alusivos.

Os filósofos arregalavam os olhos com a possibilidade iminente e ilimitada de discussão acerca do assunto.

Fizeram-se tratados, monografias, estudos, textos, peças televisivas e até teatro...

Enfim, toda uma multidão académica e não académica debruçou-se sobre Romeu tentando compreende-lo.

O seu temperamento peculiar que a nenhum outro homem se assemelhava.

A sua fisionomia estranhamente grega e que nada tinha a ver com o Homem de Vitruvio de Da Vinci, a realidade de todos os outros homens.

O seu pensamento lógico.

A sua hipersensibilidade.

As mulheres que por ele passavam e, ao invés de o estranharem rejubilavam em sua presença.

Tudo isto era uma incógnita, não se sabia como, nem porquê, nem onde...

Romeu era uma incógnita física-psicólogica. Um mistério filosófico. Um problema... matemático sem resolução à vista... o primeiro... o único.


Afinal, era verdade -pensou Romeu- também ele surpreendido: Sou mesmo do OUTRO mundo!

segunda-feira, setembro 13, 2010

Se fosse...


Toda acção da nossa vida tem apenas 2 intenções:
- Para nos fazer felizes...
- Ou infelizes.

Assim sendo, as acções de Romeu têm como principio torná-lo feliz...
Como fim, têm sido umas acções, especialmente infelizes.

Se o Romeu, sabe disso acerca de si... o outro saberá o mesmo acerca dele?

quarta-feira, setembro 08, 2010

... Assim


Amo-te assim...

Amo-te furiosamente.
Amo-te quando ris,
quando choras.
Amo-te quando o coração pára ,
quando bate descompassadamente.

Amo-te visceralmente.
Amo-te quando partes,
quando chegas.
Amo-te quando me abraças,
quando negas o beijo.

Amo-te brutalmente.
Amo-te quando ocultas,
quando falas verdade.
Amo-te quando fazemos sexo,
quando trocamos amor.

Amo-te excessivamente.
Amo-te quando és infantil,
quando és mulher.
Amo-te quando verifico as tuas falhas,
quando revelas as tuas qualidades.

Amo-te extraordinariamente.
Amo-te quando és tudo,
quando és nada.
Amo-te quando és profunda,
quando és banal.

Amo-te assim:
não sei se bem, se mal...
se da melhor forma ou pior...
não entendo se mais ou menos...
se como os outros ou diferente deles...

Amo-te e pronto.
Não me interessa nem bem, nem melhor, nem mais, nem igual...
Não me importa se mal, ou pior, ou menos ou diferente.
Amo-te e é o bastante.
Se tal não é, então tu é que não amas nem amaste, nem sabes nem queres saber, nem importa, nem quero descobrir.
.
.
.
Autoria de foto e poema: Ana Mamede

segunda-feira, setembro 06, 2010

Transmutação


O Romeu não é um rapaz particularmente inteligente ou culto ou capaz ou sequer, esperto.

Mas faz tempo que aprendeu uma das maiores lições que alguém pode dar a outro:
Na vida nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma!

Na vida de Romeu têm é sucedido grandes e brutais transformações.

O Romeu é um homem moderno, por isso, quando estas transformações sucedem na sua vida mais intima: ele estranha mas depois entranha.

Com os computadores foi assim. O Romeu não gosta deles mas tem consciência de que são uma mais valia nos tempos modernos "à la Chaplin" e aprendeu a tirar vantagem deles.

Com o cinismo foi assim. O Romeu não gosta, não aprova, não realiza a acção mas entendeu que, em algumas situações ele é necessário para evitar dores de cabeça desnecessárias.

Ou seja, com as coisas e as atitudes e até, as pessoas, o Romeu aprendeu a avaliar cada coisa no seu momento e a decidir o que fazer mediante a situação.

Verdade seja dita que esta majestosa ponderação nem sempre foi o semper forte de Romeu. Aliás Romeu é conhecido na história mais pelo seu "sangue na guelra" do que pela tal ponderação. Não é por acaso.

Portanto, o Romeu sabe que há transformação
Sabe também que a perda pode então, ser um ganho e vice-versa.
Ainda aprendeu que, independentemente das transformações, Romeu, só tem é de ser uno, sincero e transparente, consigo.

Romeu sabe que "o orgulho é tolice de criança" daí que já tenha perdoado e já tenha sido perdoado... por isso, já terminou amizades e amores e já voltou atrás quando verificava que havia errado na avaliação ou as pessoas haviam mudado.

Romeu por isso mesmo, está, na maioria das vezes em paz consigo.

Só tem uma brutal incapacidade: não perdoar quando vilipendiam cobardemente, pessoas que fizeram parte da vida de Romeu.

Romeu "aguenta" estoicamente o mal que podem dizer dele.
Não escuta, porém, o mal que podem proferir dos outros.

Da índole dos outros, Romeu, faz juízo próprio... a seu tempo, nos seus termos.

Romeu não é particularmente particular em nada mas nisto é... um pouco "picuínhas". Já vos disse que Romeu não é muito inteligente? Nem esperto? Nem muito? Nem nada?
Pois.

Sentimentos escritos



Lisboa, 14, Fevereiro, 2010 Domingo (por volta das 16:00)

Amor,

Sinto-te demoradamente longe. Terminantemente fria. Como se vivêssemos longe, muito longe um do outro, de nós próprios, do nosso amor. Do amor.

Lembro com a distância que me transtorna os batimentos cardíacos a primeira vez que te vi e que te olhei. Não quando nos conhecemos. Mas sim, quando eu te vi. Sei que me viste primeiro, não leves a mal a minha desatenção, nem a interpretes como descuido ou desprezo. A alma andava negra nesses dias e a visão toldada com uma espécie de lágrimas mal escolhidas e ainda mais infelizmente, vertidas.

Como eras triste e ficaste feliz de me conhecer. Como eras triste de me conhecer e eu não reconhecer o teu amor. Como fomos felizes quando, por fim, saí do mais profundo dos meus sonhos e acordei na mais pura das claridades. Tornaste-te mundo amor, e em nenhum momento repreendo o meu coração por não ter visto mais cedo a tua alma... Apenas o tornou mais puro para ter ver toda, para seres todo para mim.

Tenho-te em mim, numa forma sublime que gostava que se perpetuasse até ao fim dos teus dias. Mas o meu coração anda numa irrequietação que não reconheço quando atribuída a ti. Acorda-me a meio da noite, chora-me de mansinho ao ouvido quando faço tarefas banais, faz-me ler, vezes sem conta, as mesmas poesias, os mesmos poetas... anda desgraçadamente à procura de Al Berto quando, em tempos idos procurava Caeiro.

Não o entendo, mesmo quando estamos em silêncio. Alarga-se nele uma solidão que se está a transformar numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar o amor que ele, e eu reconhecemos e ambicionamos por ter de volta.

Examinamos os três, eu, o órgão de fogo e a alma, a fonte de onde jorrou outrora vida e amor e compreensão e pureza... é com a alma cansada e o coração pesado que verificámos que algures essa fonte secou. Numa forma de renúncia ao que sempre te quis dar. Numa revolta que entregas em noites claras e dias obscuros a outros...

E choramos, os três, por verificar que tudo amor, não foi mais do que um sonho que se queria/quer concretizar mas que se está a perder pela falta de dialogo, de partilha de receios mas também e talvez mais importante: por já não partilharmos o amor que nos viu no primeiro dia que te olhei.

Beijo-te. Muito. Como sempre.
Romeu.

sexta-feira, setembro 03, 2010

A carta que nunca te escrevi...


O Romeu sempre gostou de escrever. Prefere a escrita no papel do que a escrita em teclado, ainda que, uma ou outra nunca acompanhem a velocidade do seu pensamento...

Já escreveu muitas coisas: relatórios de actividades, balanços de projectos, anameneses, relatórios de exames, postais de natal, de parabéns, de casamento, de férias, já escreveu ensaios, elaborou monografias, escreveu Moleskines inteiras e diversas, escreveu apontamentos, ideias e sonhos, escreveu nos livros já escritos os sentimentos sentidos que ali ficaram descritos, escreveu recados e listas de compras, escreveu para amantes, mulher, família e amigos, escreveu para si, escreveu bem e, claro, escreveu mal... ... ...

Mas, todos os escritos foram entregues ou vistos, ou revistos, ou pelo menos, lidos...

Há uma carta que o Romeu guarda há meses que contudo, nunca foi entregue. Não foi por mal, nem por que se tivesse arrependido ou mesmo, porque achasse que não adiantaria nada...

Permanece, ainda hoje, o mistério da causalidade da vida que fez com que não entregasse essa carta... O Romeu, julga que, possivelmente, o mundo assim girou e a carta não se entregou.

A carta era dedicada à sua última Julieta, viviam juntos há coisa de um ano mas começava na altura a tal crise do ano de "casamento" e os problemas instalavam-se comodamente na relação como o bicho da madeira quando encontra bom pau do Brasil para deleitar o seu refinado apetite.

A relação tinha tido um começo difícil e turbulento, minado logo desde o inicio, por uma ex-relação desastrosa por parte do Romeu -mea culpa- e por uma questão de idades por parte da Julieta e dos amigos desta que achavam o Romeu, mais um "açambarcador" que queria tirar partido da inocente Julieta -non mea culpa.
Incrivelmente, e muito sinceramente, ao contrário da previsão de Romeu, os problemas tinham sido, um a um, obliterados da relação. Ou assim, pensava Romeu.

Romeu, não pode, ainda hoje, saber o que se passava na cabeça de Julieta ou quais seriam os seus verdadeiros sentimentos, por isso, não fará nenhuma consideração acerca do tema mas, conhece os seus.
Uma a uma, Romeu foi retirando as pedras do caminho da relação e, inclusive, da sua vida: deixou de se preocupar com a antiga relação, não ligava para o que as amigas de Julieta diziam de si, deixou de estar no seu palácio para fazer do palácio de Julieta sua casa, não fazia uma vida tão boémia como até ali, deixou (ainda a tempo) de beber tanto com os seus amigos boémios, passou a ouvir mais do que falar, preocupava-se com a saúde física e psicológica da sua Julieta que por vezes andava abatida e cansada, tomou como suas as dores das doenças dos familiares de Julieta... mudou... melhor, mudou e o que no inicio podia ter sido uma coisa negativa acabou por ser um prazer para Romeu.

Não compreendia porque certas pessoas tinham uma inveja desmesurada daquela relação...

E ficava mais perplexo, quando sabia das tais "manipulações de bastidores" que alguns perpetuavam para que a relação finda-se...
A verdade é que a dada altura e por muito e bom tempo, o Romeu não se preocupou com isso... pelo contrário: viajava alegremente na noção e certeza de que era com aquela Julieta que queria acabar os seus dias. Ideia que deixava alguns à "beira de um ataque de nervos" mas que, este Romeu-Almodovar acalentava e nutria: queria lá saber o que os outros pensavam.

Todo ele era luz. Toda a relação era luz. Toda a sua Julieta era luz.

Mesmo com nuvens, a miopia de Romeu, acentava de tal forma, que só via claridade.

E Julieta era MUNDO.

Gostava das tardes em que lia e Julieta se entretinha a navegar na net... navegavam portanto, em sítios diferentes mas, Romeu sempre julgou que no mesmo "mar", o tal da compreensão e fraternidade...

Soube tarde de mais que ele "navegava no mar Arábico" e a sua Julieta "navegaria no Mediterrâneo".
Não houve estreito que os ligasse.
Apenas viram o Mar Morto.

Depois disso, o Romeu ficou muitos e muitos meses sem escrever...

quinta-feira, setembro 02, 2010

Romantismo II - Conversas que podiam ter sido.


- Então estavas mesmo predisposto a ceder, vá lá, a tua juventude com esta ultima Julieta ao ponto de também cuidar, de lhe veres a veres cada vez mais longínqua de ti, de teres de vivenciar a inevitável dor da partida...

- Sim. Já falamos sobre o assunto e não me apetece repetir até porque não tenho nada a acrescentar.

- Então abdicavas, no fundo, de ti e do teu futuro em prol dessa Julieta? De uma Julieta que ainda por cima, está visto, quer é viver o clímax das relações, enquanto lhe interessa e está apaixonada? Tu não compreendeste desde logo que essa relação não era? Que...

O Romeu, exaltou-se e pediu-lhe para que se calasse.

Disse duas asneiras que fazia tempo que não dizia.

E foi tomar café.

O Romeu não compreendeu nada desde o inicio... Não compreendeu porque não pensou.
Sentiu.
E ainda hoje pode jurar que sentiu que a Julieta o amava. Ainda hoje pode jurar que sentiu que aceitava a Julieta com todas as suas particularidades e que a amava com a mesma intensidade.


Ainda hoje sentiu que sentia. E que isso, por si só, não pode ser coisa má!

O Romantismo I - Conversas que podiam ter sido.


O Romeu é um romântico... Não é ele que o diz, disseram -lhe agora mesmo: "Eh pá tu és mesmo um romântico!".

O Romeu ouviu aquela frase e ficou cheio de orgulho e felicidade. O problema foi que o seu amigo continuou a pequena dissertação acerca do tema.

O Romeu, é um romântico à moda antiga... logo aí, o Romeu franziu o sobrolho com receio do que se adivinhava nas palavras. "É. Tens uma noção de romantismo barroca... ou bacoca... quer dizer, ainda não decidi."

Em silêncio o Romeu começou a ficar preocupado e já não sabia se queria ouvir o resto.

"Repara: se para mim ser-se romântico tem a ver com as demonstrações mais impossíveis de dor... Tu és, certamente mestre!"

O Romeu ficou baralhado, e sinceramente, não entendeu se estariam a tercer-lhe um rasgado elogio ou, se pelo contrário, o estivessem a apelidar de masoquista... o diálogo começou:

- Dou-te um exemplo: se a tua Julieta de traísse, tu perdoavas?

- Hum... se me tivesses perguntado isso há 6 anos atrás, teria dito não! Agora, vivenciada a situação... Sim! Já perdoei.

- Mas entretanto não houve ninguém, por vingança...

- Não. Houve, mais tarde, depois disso, sem ser por vingança e numa ruptura... A situação por vingança não acaba por nos fazer mais mal que bem?

- Eh pá, isso não interessa para o assunto.

- Certo. Então não!

- Ora então és maluco!

- Então já não sou romântico?!

- Não, és só mesmo maluco!

- Então não devia perdoar?!

- Vá que perdoes. Vá que esqueças. Vá... mas não fazeres o mesmo?????

- Quando começamos a relação já sabia ao que ia... No continuar claro que não esperava esta situação e fiquei magoado mas, a dada altura colocamos a pergunta: então mas, amarei esta pessoa o suficiente para perdoar e acreditar que não o fará de novo, ou não?

- Então?

- E a resposta foi sim. Amava, aceitei, perdoei e, acreditei que não voltaria mesmo, a repetir a situação.

- Tu, para além de todos os problemas inerentes à pessoa e à relação que nessa altura, já tinha sido, de alguma forma, corrompida, ainda acreditaste nisso...

- Sim. Acreditei acima de tudo, que quando amamos, não podemos escolher amar só o que é bom... temos de amar o que é defeito. Eu tenho defeitos, alguns mudo, outros tento mudar mas, muitos, possivelmente, nunca vou mudar. A única vantagem, é que quando a pessoa me conhece esses defeitos já estam lá para os verem. Não consigo escondê-los, pelo menos não por muito tempo... Há pessoas que o escondem bem.

- Ou tu não os queres ver!

- Ou isso.

- Ou isso?

- Ou isso!

quarta-feira, setembro 01, 2010

Fotografia, Musica e Leitura...


É conhecido que Romeu sempre gostou de musica e leitura...
Procura incesantemente as novidades musicais que podem ir desde a clássica à musica alternativa e nos livros, desde os clássicos aos novos autores...

Romeu, no que diz respeito à cultura, não é esquisito... Pode depois é gostar mais de um tipo de leitura do que outro, de um forma mais harmoniosa musical do que de outra.
Descobriu, contudo, há relativamente pouco tempo o prazer da fotografia.

Durante anos surrupiava discretamente a máquina de rolo Leica da sua prima e, quando chegou a independência financeira a sua Ixus tornou-se a sua companheira de viagem, trocou-a por uma Fugifilm que ainda está a descobrir e percorre agora kilometros para conseguir aquele por-do-sol com que tinha sonhado na noite passada, a tal claridade solar no palácio onde há dois anos tinha estado... ... ...

Ontem, depois de findados os "deveres", partiu para mais um encontro consigo e com as imagens... Chegou a casa cansado e feliz com mais uma viagem nocturna em busca do "el dorado" fotográfico... Tomou o seu banho e olhou maravilhado para as tropelias da sua máquina. Consolou a sua máquina velhinha, tolamente falando-lhe de que "não a tinha abandonado, apenas tinha arranjado uma companhia para si" e, como o ambiente assim o pedia desencantou um dos cd´s do seu avô e deixou que o som bem alto dos seus auscultadores penetrassem vivamente nos seus ouvidos...

Tocava o concerto nº 1 de Brandenburg de Bach quando lhe apeteceu ler... Romeu, espera ávidamente por "Uma ideia na India" mas, como só chega na quinta, olhou para a biblioteca e lembrou o quanto gostava de Rilke, o quanto prazer teria em voltar a ler algumas das "Cartas..."... abriu o livro sem pensar...

Na parte que sublinhou faz tantos anos, estava escrito o seguinte: "(...) Não é somente a inércia a culpada pela repetição dos relacionamentos humanos, caso a caso, indescritivelmente, de forma monótona e sem renovação. É a timidez diante de novas e imprevisíveis experiências para as quais acreditamos não estar preparados. Mas somente alguém que está preparado para TUDO, que não exclui NADA, nem o mais enigmático, vivenciará a relação com o outro como algo vivo. (...)".

Releu aquele paragrafo umas duas ou três vezes, cada palavra, com Bach como sinfonia de fundo fazia com que se emociona-se... Verteu uma lágrima de alegria no preciso momento que começou o segundo Allegro... Pensou: Que bom não excluir nada... nem dores, nem idades, nem vícios, nem qualidades, nem doenças, nem mentalidades, nem crenças, nem banalidades... nem... nem...

Os dias são bons, quando chegamos ao fim de cada um e mais parece que ele recomeça ao invés de terminar...